quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Atormentado pela consciência


É noite alta.
Silêncio absoluto.
As estrelas do céu
Iluminam a cidade
Que dorme.
Um pouco mais distante,
Um homem caminha
Na beira da praia.
Arregaça as calças,
Para que as ondas do mar
Não as alcance.
Acende um cigarro
E fixa seus olhos
Na imensidão do mar.
Sente-se ainda mais insignificante,
Diante de tamanha beleza.
Seu corpo está cansado,
A cabeça dói.
Lembranças do passado,
Surgem em sua mente.
Fecha os olhos
E tenta afastá-las,
Mas elas insistem em voltar.
E,como se fosse um filme,
Ele revê as cenas
Que,em nenhum momento,
De sua triste vida,
Deixaram de o atormentar.
O que vê é um homem jovem.
Num quarto luxuoso.
Há muita gente no local.
Na cama,há uma mulher.
Seu corpo está inerte;sem vida.
No chão tem uma arma.
Um policial o retira dali.
Ao sair do quarto,
Depara-se com duas crianças
Que choram desesperadamente.
O homem tenta ir até elas
E consolá-las,
Porém é impedido.
Caminha como um autômato
E é levado num carro.
As imagens tornam-se imprecisas,
E aos poucos desaparecem.
O homem senta-se
Na areia da praia,
Agora não se importando
Que as ondas do mar,enérgicas,
Molhem suas roupas.
Novamente,as lembranças
Ressurgem,
Dessa vez,com mais clareza.
O cenário inicial é o mesmo.
O homem jovem no quarto
Discute com uma mulher.
Ela se afasta dele.
Vai até o closet,
Troca de roupa e volta.
Ele a segura pelos ombros,
Sacode-a,com fúria,
E a joga na cama.
A mulher tenta reagir.
O homem aponta uma arma.
O tiro é fatal.
Ela cai sobre a cama.
Em seu peito há uma poça de sangue.
Ele joga a arma ao chão
E pemanece imóvel,
Até a polícia chegar
E o levar dali.
Não há mais como fingir,
Mentir para si mesmo.
O homem,sentado na areia,
Sabe que as imagens não voltarão,
O caso está encerrado.
Coloca a cabeça entre as mãos.
Pensa que não vai suportar a dor.
Quer levantar-se e não consegue,
De repente,ouve vozes.
Escuta,nitidamente,a palavra:
Assassino!
Vultos se aproximam dele.
São duas crianças.
Ele as reconhece:são seus filhos.
São eles que o chamam de assassino.
O homem levanta-se.
Tenta tocá-las;não há ninguém.
Enlouquecido,caminha mar adentro,
Enquanto pronuncia suas últimas palavras.
Deus,tenha piedade de mim,
Eu não sabia o que fazia.
E desaparece
Na infinitude das águas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário