Cotidiano de um homem anônimo.
Puxo as cortinas da janela para o lado, a fim de que o sol possa penetrar na escuridão em que me encontro.Caminho meio trôpego até o banheiro, esbarrando em garrafas de uisque vazias e cinzeiros abarrotados de cigarros, espalhados pelos cantos da casa.Vou até a torneira e mergulho a cabeça debaixo da água fria; me sinto tonto e enojado ao ver toda essa bagunça por onde quer que olhe. Calmamente passo a toalha pelo rosto e, logo em seguida, me dirijo à cozinha. Encontro um vidro de Nescafé quase vazio, raspo o fundo e preparo meu café. Acendo um cigarro; é o último. Vou até a porta e fico parado, pensando na noite anterior. Eu não tenho família e nem amigos. Frequentemente, carrego pra casa garotas que encontro em bares e boates que entro,e o resultado é sempre esse: garrafas jogadas aqui e ali, cinzeiros cheios, e tocos de cigarros atirados pelo tapete da sala. Desordem total. E todas as manhãs são iguais; os meus gestos e pensamentos os mesmos, e a solidão é uma constante em minha vida.Olho-me no espelho. Já não sou mais jovem. Não tenho futuro; vivo o presente e me escondo do passado.Vejo meu rosto refletido no epelho, e tenho a impressão de estar sendo espreitado, vigiado; assusto-me. Volto-me rapidamente. Não há ninguém. Deve ser o efeito da bebedeira. Ligo o rádio. Está tocando uma música que eu conheço, é antiga e melancólica. Desligo o rádio.Quantas horas se passaram, desde o momento em que acordei? Não importa.Fecho as cortinas. Abro outra garrafa de uisque. Procuro um número num caderninho. Chamo alguém pelo telefone. A voz feminina, do outro lado, me responde:daqui a quinze minutos estarei aí. Largo o telefone e espero...