sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Massacrante Felicidade dos Outros...

Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde
coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Há no ar um certo
queixume sem razões muito claras.

Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com
profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro
delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo
estando tudo bem. De onde vem isso?

Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta
Antonio Cícero, uma música que dizia: Eu espero/ acontecimentos/ só
que quando anoitece/ é festa no outro apartamento? .

Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito
animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha
convite. É uma das características da juventude: considerar-se
deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam
ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada
na grama do vizinho.

As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é
infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os
notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas
angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas
fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes
paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão
animada assim.

Ao amadurecer, descobrimos que estamos todos no mesmo barco, com
motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no
escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro
raramente são divulgados pra consumo externo.

Todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores, social e
filosoficamente corretos. Parece que ninguém, nenhum deles, nunca
levou porrada. Parece que todos têm sido campeões em tudo.

Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e
olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta
overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta.
Nesta era de exaltação de celebridades reais e inventadas fica
difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas tem.

Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias,
desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa
biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de
Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores?

Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão
de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola
cada vez que você sai de casa? Será bom só sair de casa com alguém
todo tempo na sua cola a título de segurança? Estarão mesmo todas
essas pessoas realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só
você está em casa, lendo, desenhando, ouvindo música, vendo seu time
jogar, escrevendo, tomando seu uisquinho?

Tenha certeza que as melhores festas acontecem sempre dentro do nosso
próprio apartamento.


Martha Medeiros, gaúcha, 44 anos,Jornalista e Poeta.

El latido del corazón...

http://www.youtube.com/watch?v=iuA7vSQJD74

Adorei,Marlene!

Na Queda de um Aguaceiro,
Um Rosto salpicado
Com gosto a Liberdade!
Um Correr desenfreado
Num grito de Genuinidade!
Um Louco chapinhar
Sem cair na Banalidade!


By Planeta M