(Martha Medeiros)
Mas não sei se o Deus em que eu acredito
é o mesmo Deus em que acredita o
balconista, a professora, ou o porteiro.
O Deus em que acredito não foi
globalizado.
O Deus com quem converso não é
uma pessoa, não é pai de ninguém.
É uma idéia,
uma energia,
uma eminência.
Não tem rosto, portanto
não tem barba.
Não caminha, portanto
não carrega um cajado.
Não está cansado,
portanto não tem trono.
O Deus que me acompanha
não é bíblico.
Jamais se deixaria resumir por dez
mandamentos, algumas parábolas e um
pensamento que não se renova.
O meu Deus é tão superior quanto o
Deus dos outros, mas sua superioridade
está na compreensão das diferenças, na
aceitação das fraquezas e no estímulo à
felicidade.
O Deus em que acredito me ensina a
guerrear conforme as armas que tenho e
detecta em mim a honestidade dos atos.
Não distribui culpas a granel: As
minhas são umas, as do vizinho são
outras, e nossa penitência é a reflexão.
Ave Maria, Pai Nosso, isso qualquer um
decora sem saber o que está dizendo.
Para o Deus em que acredito só
vale o que se está sentindo.
O Deus em que acredito não
condena o prazer.
Se Ele não tem controle sobre enchentes,
guerrilhas e violência, se não tem controle
sobre traficantes, corruptos e vigaristas, se
não tem controle sobre a miséria, o câncer
e as mágoas, então que Deus seria Ele se
ainda por cima condenasse o que nos
resta: O lúdico, o sensorial, a libido que
nasce com toda criança e se desenvolve
livre, se assim o permitirem?
O Deus em que acredito não é tão bonzinho,
me castiga e me deixa uns tempos sozinho.
Não me abandona, mas me
exige mais do que uma visita à
igreja, uma flexão de joelhos e
uma doação aos pobres;
Cobra caro pelos meus erros e não
aceita promessas performáticas, como
carregar uma cruz gigante nos ombros.
A cruz pesa onde tem que pesar: dentro.
É onde tudo acontece e tudo se resolve.
Este é o Deus que me acompanha. Um
Deus simples.
Deus que é Deus não precisa ser
difícil e distante, sabe tudo e vê tudo.
Meu Deus é discreto e otimista.
Não se esconde, ao contrário, aparece
principalmente nas horas boas para
incentivar, para me fazer sentir o quanto
vale um pequeno momento
grandioso:
um abraço num amigo, uma música na
hora certa, um silêncio.
É onipresente, mas não onipotente.
Meu Deus é humilde.
Não posso imaginar um Deus
repressor e um Deus que não sorri.
Quem não te sorri não é cúmplice.
BARBOSA
Há 15 horas
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