terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Diário de uma sobrevivente do século XXI

Diário de bordo.
Data estelar: 21/08/2030
Daqui, de onde me encontro, observo estarrecida o que acontece no planeta Terra. Muito pouco mudou, desde a minha partida.
Os homens, de forma irresponsável , continuam devastando a sua Morada. Numa busca frenética para obter bens de consumo, que possam lhes assegurar mais conforto e "qualidade" de vida, ou todo e qualquer mecanismo que lhes proporcione prazer imediato, eles, ironicamente, estão causando a destruição do que há de mais precioso: o seu habitat; o espaço mais harmonioso que alguém dessa espécie já conheceu.
Estas criaturas, desprovidas de bom senso, apesar de todas as mazelas vividas ao longo da história da humanidade, ainda não perceberam o mal que vêm causando a si e aos outros. Egoisticamente, esquecem que num mundo globalizado nada é isolado, e por conseguinte, todos sofrem as consequências de atos - sejam eles bons ou ruins. Neste caso, em particular, me detenho nos ruins, cometidos por pessoas desprovidas de ética, que visam somente o benefício particular, mesmo que isso custe a vida de seus semelhantes.
Afinal, a vida dos seres que habitam este Planeta vale quanto? E se vale alguma coisa, por que e para quem interessa?
Analisando o que acontece atualmente, acredito que vale muito pouco, ou melhor, seu valor está diretamente ligada aos interesses daqueles que, de alguma maneira, só se importam com o que lhes traz alguma vantagem. Para eles, pessoas são objetos descartáveis, caso não sirvam aos seus interesses.
De onde estou, percebo o quanto a maioria dos seres humanos é hipócrita ( salvo rarísssimas exceções ). Se tornam extremamente prestativos, quando catástrofes, naturais ou não, arrasam países e fazem milhares de vítimas. Neste momento, acorrem multidões, solidárias à dor das pessoas desamparadas. Entretanto, há quem veja nestas desgraças um terreno fértil para por em prática o oportunismo, ganhar notoriedade e, claro, dinheiro.
Estou imune a toda esta bárbarie, porque tive a lucidez e o privilégio de poder fugir deste meio, o qual só me fez perder a fé no ser humano e por pouco, quase desacreditar de mim mesma.
Quando parti, só lamentei o fato de perder o convívio com os animais, que tanto amo e valorizo, pois neles podemos confiar integralmente. Eles nos amam incondicionalmente e jamais nos abandonam, aconteça o que acontecer.
Eu já não suportava conviver com esta gente que se autodenomina de "ser racional." Onde está a racionalidade tão propalada? Parece que ela - esta espécie - não evoluiu nada, desde os tempos em que habitava em cavernas.
Imagino que muitas tragédias estão por vir e que, num futuro ainda distante, se este Planeta tiver sobrevivido a tudo e a todos, e já então num estágio diferente, surgirão outros seres mais conscientes, mais responsáveis e, sobretudo, menos egoístas.
Não sei aonde estarei, quando as mudanças chegarem. Mas fica a esperança de que o meu desabafo ecoe pelo universo, como um alerta para as futuras gerações.
É tudo lamentável!
Encerro mais uma página do meu diário de bordo

( camilomortágua )

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