sábado, 22 de agosto de 2009

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Woodstock faz 40 anos e deixa legado paz e amor na moda

Michelle Achkar
Getty Imagem

Nicole Richie atualiza a moda hippie, deixando tudo com cara de butique

Há 40 anos, milhares de jovens se reuniram em um grande terreno em Bethel, no estado de Nova York, nos Estados Unidos, para um festival de música que durou quatro dias (oficialmente seriam três, de 15 a 17 de agosto de 1969, mas na segunda, 18, ainda havia apresentações) e reuniu artistas como Jimmy Hendrix, Joan Baez e Janis Joplin, dentre outros.
» Hippie deu origem a outros estilos
O Woodstock, marco da contracultura norte-americana, não foi um evento de moda. Longe do modelo dos megaespetáculos em que o figurino faz parte do show, o objetivo era celebrar a paz e a liberdade. Mas o evento celebrou também a liberdade de se vestir.
O legado de paz e amor chegou às roupas e criou um estilo que atravessou gerações. Peças confortáveis, de modelagem ampla, feitas na sua maioria de tecidos naturais, que privilegiavam trabalhos manuais, como os bordados, ou as técnicas caseiras de tingimento, como o famoso tye-die, criaram o chamado estilo hippie.
"Por mais que antes do Woodstock já houvesse movimentos de contracultura organizados em cidades como Londres e Nova York, o evento foi um marco histórico devido à proporção que tomou. Reunir 500 mil pessoas em um festival de música, em 1969, rendeu tanta mídia que acabou mostrando ao mundo todo como eram a moda e o comportamento daquele público", disse a estilista Thais Losso.
"De repente, em milhares de veículos de comunicação espalhados pelo mundo todo apareceram fotos de meninas usando óculos grandes e chapéus esgarçados, tops e camisetas, sem sutiãs, batinhas, meninos cabeludos, roupas coloridas, gente descalça, faixas na cabeça, corpos pintados, milhares de colares, anéis e outros acessórios, enfim, o evento foi uma grande vitrine para que o mundo conhecesse a moda do movimento hippie."
Unissex
Com o hippie começou também a moda unissex. Homens e mulheres usavam calças jeans de boca larga, batas, bolsas a tiracolo e cabelos longos e desgrenhados. Olhando de trás, não dava para diferenciar. Alguns até punham em dúvida seu gênero, como a cantora Janis Joplin, que era confundida com um menino, devido a sua aparência.
A época foi marcada ainda por roupas de cores muito vivas, que também estavam associadas aos efeitos lisérgicos das drogas, que causaram a morte precoce de uma geração de músicos, como Joplin e Hendrix, mortos no ano seguinte à realização do Woodstock.
Outra característica adotada por homens e mulheres foi deixar o corpo mais exposto, com o uso das minissaias e dos coletes direto sobre pele - no caso masculino.
Estilo
Depois dos anos 1970, o hippie foi e voltou como tendência, mas nunca abandonou as passarelas ou a vida das pessoas, nem que seja numa fase. "Tive uma fase hippie na adolescência. Quem não teve? Mas a gente cresce e vai adotando uma moda mais condizente com o nosso amadurecimento. Isso não quer dizer que me visto de uma forma careta. Ainda uso uns jeans com tênis (tenho um All Star da bandeira americana que amo de paixão), uso umas camisetas bem podrinhas, e acho que a moda hippie fala muito de conforto e de liberdade. Isso não passa nunca", disse Thais.
Hoje, com a indústria do consumo tão desenvolvida e com a oferta de roupas em grandes shoppings e lojas de departamento, a filosofia hippie permanece na moda mesmo. Daí surgiram os termos hippie de butique, chic ou bohemian. E onde estão a paz e o amor? "São sentimentos abstratos poderosíssimos que estão muito mais presentes no ato de criação de moda do que nos produtos criados. Crio e desenho com muito amor, e sinto uma paz interior muito grande durante o processo."
Valores parecidos
Qualquer jovem hoje reconhece o estilo hippie, mas sem o engajamento que marcou o movimento nos anos 1960 e 1970, também conhecido como Flower Power, por pregar o fim da violência. "Ficou só o legado na moda, mas há um desejo por coisas parecidas, uma busca pelo mais puro", disse Miti Shitara, professora de História da Moda da Faculdade Santa Marcelina e da FMU.
A especialista se refere à busca por uma maior consciência do corpo, a popularização das culturas orientais, a busca por estar mais em contato com a natureza, valores que surgiram com a revolução cultural dos anos 1960, cujo ápice foi o festival. "Foi um divisor de águas e tem origens na década de 1950 com os beatnicks, que rejeitavam a sociedade de consumo e buscavam novas referências. E depois com o festival de Monterey, em 1967." O evento musical beneficente aconteceu na Califórnia e reuniu músicos, alguns que também se apresentaram em Woodstock dois anos mais tarde.
Uma curiosidade é que alguns comportamentos que se tornaram símbolo do movimento foram motivados na verdade pela falta de infraestrutura do festival. "Esperavam 20 mil pessoas e apareceram 500 mil. Não havia banheiros ou água, então os banhos de rios e o consumo de alimentos naturais passaram a fazer parte desse estilo de vida." A pílula anticoncepcional permitiu a prática do sexo livre e marcou a liberação da mulher, uma das principais conquistas femininas da década de 1960 que também se tornou símbolo em Woodstock.

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