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Pressa de viver
Quando somos crianças, temos pressa em crescer; queremos logo ser adultos.
Ao entrarmos na adolescência, permanecemos insatisfeitos: não somos mais crianças mas também não somos "gente grande", não somos donos de nossas vidas.
Então o tempo passa e, finalmente, nos tornamos adultos. Agora, a vida passa a ter graça. Nos tornamos autônomos. A partir daí, tudo passa a ser nossa responsabilidade. Não tem pai nem mãe para nos socorrer, é tudo por nossa conta. No passado, "matar" aula não dava nada; hoje, "matar" o emprego pode nos custar sua perda e a não-realização de alguns sonhos.
Nesse percurso, nos damos conta de que temos muito o que aprender, que temos muito a conquistar. Fazemos muitos planos: estudar, trabalhar, viajar, namorar, casar, ter filhos...temos muita pressa, mas ainda somos jovens.
E, na ânsia de realizar nossos sonhos, nem sentimos quando entramos na maturidade: sinal de alerta. Precisamos ficar atentos. Estamos entrando numa curva descendente, início do processo de envelhecimento. Corrida contra o tempo; contagem regressiva. Ainda assim, ou talvez por isso mesmo, a pressa continua a nossa companheira.
O que falta realizar, o que ainda não fizemos ? Essa passa a ser a pergunta constante em nossa vida.
De repente, percebemos que a pressa nos impediu de recolher da vida aquilo que ela tem de mais precioso: a simplicidade de viver cada coisa a seu tempo, saboreando cada minuto como se fosse o último. Um tempo de cultivar amigos, trocar afetos, olhar para o outro, olhar para além de nós mesmos, enfim, viver de forma equilibrada.
Contudo, a constatação que faço aqui, é só retórica. Na prática, quantos de nós conseguem despistar a pressa e gozar a vida de forma saudável? Penso que muito poucos. Vivemos num país capitalista; somos induzidos ao consumo diariamente. O lema é ter e ter . Consequentemente, somos obrigados a trabalhar muito para obter o que desejamos, e nunca é o suficiente, pois as novidades tecnológicas e os avanços em todas as áreas não param. E, se outros têm, como vamos ficar sem...A competição é desmedida; a inveja - que deveria ser saudável - se na medida certa, às vezes vira coisa patológica.
O Ter, gradativamente, ocupa o lugar do Ser. Como fazer para não nos deixarmos dominar completamente por essa "fúria" que se desencadeou nos últimos anos, como não nos frustrarmos diante de situações em que nos sentimos impotentes, porque fogem ao nosso controle ? Penso que somente com muita lucidez, com muita determinação e o exercício diário para amanutenção de valores muito sólidos. E isso se adquire através de experiências e aprendizagens, o que demanda tempo.
A coisa certa talvez seja aprender a ser feliz. Aprender através da aceitação de que não bastam os bens materias para que nos tornemos seres plenos. É preciso muito mais que isso. É preciso saber usufruir do que temos ao nosso alcance - pouco ou muito - o que importa é a qualidade do que está ao nosso dispor e o quanto nos preenche. Acima de tudo, é preciso ter menos pressa e aprendermos a nos contentar com o que é realmente imprescindível para termos uma vida mais serena e, ao mesmo tempo, produtiva. De fato, o importante é olharmos ao nosso redor e descobrir que não precisamos ter muito para nos tornarmos um Ser mais rico interiormente. Basta sermos coerentes conosco e com nossos atos em relação à vida.
Andemos mais devagar, para apreciarmos melhor e com sabedoria o que está próximo a nós e, assim, poder curtir prazerosamente o tempo que nos resta.
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