sábado, 27 de novembro de 2010

O SONHO


(Rose Mori)


Roubei um sonho do tempo,
em determinado instante
em que ele estava distraído
se ocupando com outras vidas.
E vivi esse sonho
com a intensidade realística
dos que sabem que o presente
pode ser o último dia.
Suguei desse sonho
toda a doçura do mel
como se fosse o próprio favo
retirado com cuidado
da colméia alvoroçada.
Minha alma se deitou
sobre esse sonho,esparramando-se,
como se ele fosse um colchão de nuvens
pousado no céu
e descansou de todos os pesadelos.
Sentei-me à sombra desse sonho,
ociosamente,
e contemplei o rio da vida
seguir seu curso...
E, pude, então,
sentir o gostinho da felicidade.
Mas o tempo não pára.
Segue lépido como o vento
em direção ao futuro desconhecido.
E nessa desenfreada corrida,
recuperou o sonho roubado
e levou consigo
todas as esperanças.
Mas enganei o tempo.
- ele pensa que me levou tudo -
Ficaram comigo as recordações
que hoje preenchem o espaço vazio
em meu coração.
Ficou a certeza,
quase orgulhosa,
de que consegui roubar
um sonho do tempo
e que, se o fiz uma vez,
quem sabe conseguirei novamente?
É só uma questão de tempo.